O CEO do Duolingo, Luis von Ahn, e o CTO da empresa, Severin Hacker Foto: Divulgação
O CEO do Duolingo, Luis von Ahn, e o CTO da empresa, Severin Hacker
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O empresário Luis Von Ahn sempre pensou em uma forma de criar uma ferramenta de ensino de idiomas que não custasse nada para o estudante. "Em muitos países da América Latina, muita gente não tem dinheiro para aprender uma língua", afirmou em entrevista ao Terra o empresário, que nasceu na Guatemala e se mudou para os Estados Unidos na adolescência para estudar matemática. 
A ideia por trás é simples: uma pessoa ou uma empresa precisa traduzir uma página da internet ou um texto e envia o conteúdo para o Duolingo. Esse texto é colocado na plataforma de ensino, para que os alunos façam a tradução para praticar o idioma que estão aprendendo. Quando o documento estiver completamente traduzido, o Duolingo devolve o conteúdo ao cliente, que paga pelo trabalho. Isso livra a plataforma de mensalidades e anúncios.E foi uma conta matemática simples que acabou tornando viável a sua ideia: "a tradução de idiomas é um negócio de US$ 30 bilhões por ano, e existem 1 bilhão de pessoas aprendendo uma língua em todo o mundo", disse. Assim nasceu oDuolingo, uma plataforma de ensino de idiomas criada por Ahn em que o usuário não paga nada para estudar: ele só precisa usar o conhecimento adquirido no próprio serviço para ir traduzindo trechos de textos da internet durante a aprendizagem. 
"Qualquer coisa na web pode ser traduzida. Atualmente estamos traduzindo principalmente artigos da Wikipédia e alguns textos de organizações de mídia também estão sendo traduzidos pela gente. Foi a forma que encontramos para monetizar o serviço", disse.






Duolingo tem exercícios de tradução. Dificuldade vai aumentando na medida em que usuário sobe de nível Foto: Reprodução
Duolingo tem exercícios de tradução. Dificuldade vai aumentando na medida em que usuário sobe de nível
Foto: Reprodução

O Duolingo oferece uma ferramenta em que os estudantes executam atividades de escrita, de fala e de escuta, ganhando e perdendo pontos, como um jogo. As primeiras palavras são simples, mas, na medida em que o aluno vai subindo de nível, a exigência vai aumentando e frases de textos da internet que não foram traduzidos, contendo as palavras que os usuários aprenderam, vão sendo dadas como exercício. Diferentes alunos traduzem essa frase, veem as respostas de outros usuários e decidem juntos qual é a mais tradução apropriada.
Além da questão da viabilidade econômica, há mais por trás do Duolingo. Ahn é considerado um pioneiro do crowdsourcing, um modelo de produção que usa a força e a inteligência da "multidão" na internet para executar uma tarefa. E uma das muitas tarefas em que as pessoas - ainda - são melhores que os robôs é a tradução e a compreensão de textos.






reCaptcha trabalha com digitalização de textos Foto: Reprodução
reCaptcha trabalha com digitalização de textos
Foto: Reprodução

Mesmo sem saber, você já deve ter esbarrado com uma das criações de Ahn pela internet: o Captcha, aquele sistema em que o usuário digita palavras distorcidas exibidas na tela para provar que é humano e impedir que robôs enviem spam ou executem atividades maliciosas em sites. Do Captcha, Ahn criou o reCaptcha, uma empresa que usa a digitalização de livros e jornais como fonte dessas palavras distorcidas, que muitas vezes não são reconhecidos por computadores. Assim, cada vez que você digita um Captcha nesse sistema, está ajudando a máquina a entender que palavra é aquela.
Atualmente, o reCaptcha trabalha na digitalização do arquivo do The New York Times e de livros do Google Books. O reCaptcha foi comprado pelo Google em 2009. 






Árvore de idiomas mostra avanço dos alunos nos níveis da ferramenta Foto: Reprodução
Árvore de idiomas mostra avanço dos alunos nos níveis da ferramenta
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Interesse no Brasil
Atualmente, a ferramenta tem 2,8 milhões de usuários em todo o mundo, 10% deles brasileiros. A meta do Duolingo é que, até o fim do ano, o País tenha 1 milhão de alunos usando a plataforma. Para isso, no mês que vem, ele vem ao País participar de conferências e reuniões.
"Toda a América Latina, mas especificamente o Brasil, é muito importante para a gente. O Brasil tem uma economia que está crescendo muito rápido, e também muita gente querendo aprender inglês, e isso é interessante. Nos Estados Unidos, aprender uma língua é um hobby, as pessoas não acham que precisam aprender uma nova língua. No Brasil, não. As pessoas estudam para avançar na vida, conseguir um trabalho melhor", avalia.
Atualmente, o Duolingo oferece cursos de espanhol, inglês, francês, alemão, português e italiano. A partir do português, no entanto, só é possível aprender inglês. Ahn espera incluir em breve cursos de espanhol e francês a partir do português.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Duolingo, 34 horas na plataforma equivalem a um semestre de um curso de idiomas na universidade. Cada usuário passa, em média, 30 minutos por dia estudando na ferramenta. E Ahn é um deles. "Estou tentando aprender alemão, francês e português ao mesmo tempo", conta.
A ferramenta possui um aplicativo para iPhone, disponível para download na App Store. Em maio, será lançada a versão para Android.